quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Carta de Puebla determina políticas públicas contra a pobreza, diz religioso

A opção preferencial pelos pobres, expressa na Carta de Puebla, significa ter a vida como centro de qualquer projeto e assegurar aos mais necessitados o direito humano à vida em sua plenitude, disse nesta terça-feira o padre José Aparecido, capelão do Palácio das Araucárias, em palestra na reunião semanal da Escola de Governo, realizada no auditório do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.

“Não se trata, aqui, da pobreza evangélica, como opção de vida, mas como condição de vida imposta pela sociedade que provoca a exclusão pelas estruturas política e econômica. (Trata-se de) Uma sociedade egocêntrica, classista, dominadora, que planeja a dependência, a escravidão de milhões em favor de poucos”, explicou o religioso.

“A Carta de Puebla nos trás luz sobre os sinais da pobreza, da miséria, da privação, da agressão dos direitos humanos, da dignidade humana. Por isso, nossa responsabilidade, nosso compromisso é gritar contra as injustiças sociais, denunciar ricos cada vez mais ricos, pobres cada vez mais pobres. Esse é o grito da Carta de Puebla. Ela toca na ferida, nas mazelas sobre as quais vive a sociedade latino-americano e caribenha”, disse o padre.

“A opção preferencial pelos pobres significa ter uma meta, significa buscar nessas metas uma preferência. Era necessário gritar, denunciar o capitalismo selvagem, os meios de comunicação massificantes, dirigidos pelas classes dominantes, que provocam a escravidão, a servidão cultural e econômica”, argumentou José Aparecido.

“O domínio que impõe a miséria não nasceu por acaso, é obra de um planejamento, de uma organização de classes, de um grupo social. Daí que os direitos humanos não são respeitados, a família está desestruturada, face às mudanças sociais, os sonhos das grandes cidades, das favelas, as drogas, perde-se os valores , perde-se o sentido da vida”, falou.

“O assistencialismo não cabe como resposta de libertação. O que se quer é a promoção humana, a oportunidade do pobre ser protagonista de sua história. Trata-se de trabalhar pela esperança de um mundo melhor, um mundo de justiça, onde haja solidariedade, a partilha”, lembrou o religioso.

CONTEXTO HISTÓRICO — A Carta de Puebla é resultado da Conferência Episcopal de 1979, realizada em Puebla de Los Angeles, no México. “Já houve cinco conferências, a primeira delas no Rio de Janeiro, em 1955, a última em Aparecida do Norte, em 2007. Elas são o momento da Igreja parar e refletir, avaliar sua história, sua caminhada, sua missão, analisar, num contexto social, político e econômico, a vida de sua comunidade no continente americano”, contou o capelão.

“A Carta de Puebla é dividida em cinco partes — a visão pastoral da realidade latino-americana, o desígnio de Deus sobre a realidade da América Latina, a evangelização da América latina como forma de união e participação, a igreja missionária a serviço da evangelização, o dinamismo do espírito e as opções pastorais. Nosso tema, a opção preferencial pelos pobres, ocupa toda a quarta parte do documento”, explicou.

“Nessa missão, tivemos grandes homens. Um deles foi Dom Hélder Câmara, o grande homem que fez com que tivéssemos a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que foi responsável pela criação do Conferência Episcopal Latino-Americana. Dom Hélder era um cearense simples, mas que quando abria seus lábios fazia soar forte a voz em favor dos pobres, dos necessitados”, falou o religioso.

“Temos que denunciar, analisar e ver realmente o que está acontecendo em nosso mundo. Daí vem a responsabilidade das nossas decisões, que não podem decisões pessoais, ou classistas, mas sim decisões que promovam a vida, o homem, o bem da sociedade. Essa é a responsabilidade que cabe especialmente a cada um de vocês, líderes públicos”, lembrou José Aparecido.

O padre citou trecho do evangelho de Mateus que corrobora os princípios da Carta de Puebla. “Pois tive fome e me deste de comer. Tive sede e me deste de beber. Era forasteiro de me recebeste. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e vieste ver-me.
Então os justos lhe responderão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te ver? Ao que lhes responderá o rei — em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmão mais pequeninos, a mim o fizestes”, leu o padre.

Fonte: http://www.seae.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=1965

Um comentário:

  1. A Carta de Puebla é um exemplo que deveria ser seguido pelos poderosos que na maioria das vezes esquece de fazer a opção pelos mais pobres, estamos aqui para propor essa forma diferente de fazer política sempre respeitando as pessoas, aqueles que mais precisam.

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